Reprodução: Alexandre Vidal/CRF

Os primeiros 45 minutos da partida entre Grêmio e Flamengo ontem foram muito equilibrados, onde os números ilustram bastante isso: o Flamengo teve ligeiramente mais posse de bola (51 x 49%) e mais finalizações (6 x 5), porém chutou menos ao gol (3×2). Duas equipes jogando num 4-2-3-1 que possuíam suas especificidades. Do lado gaúcho Jean Pyerre buscava “carimbar as bolas”, trabalhando mais próximo a Lucas Silva e Matheus Henrique. O tricolor buscava acelerar buscando Alisson e Ferreira dos lados e a referência Diego Souza na área. No momento defensivo, um 4-4-2 onde os pontas pressionavam a saída dos laterais rubro-negros enquanto Diego Souza e Jean Pyerre pressionavam os zagueiros e volantes, em pressão média/baixa.

Do lado carioca um time bastante espelhado. O mesmo esquema tático, com Everton Ribeiro e Bruno Henrique pelos lados, enquanto Gabi e Arrascaeta trabalhavam por dentro. Isla atacava pelo lado direito, mas também conseguia fazer a recomposição e conseguiu vencer a maioria dos duelos com Ferreira. Isso permitiu mais avanços de Filipe Luís, que vinha atuando quase como um terceiro zagueiro. No momento defensivo a equipe também atuava num 4-4-2 com Gabi e Arrascaeta sobrando e também uma pressão média/baixa. Individualmente os volantes Gerson e Diego faziam uma partida razoável, contudo Arrascaeta estava um pouco abaixo, por não conseguir dar prosseguimento ao trabalho entre linhas que normalmente produz com regularidade. A equipe também estava receosa em buscar passes mais difíceis e se tornava previsível com passes “mais confiáveis”.


Ambas as equipes tiveram oportunidades na primeira etapa e o desempenho técnico foi o fator primordial para o Grêmio sair do primeiro tempo vencendo o jogo. Enquanto o Fla com Gabi perdeu as principais oportunidades no primeiro tempo, após atacar corretamente o espaço entre zagueiros e laterais para receber bolas, o Grêmio teve como principal arma o ataque às costas de Filipe Luís quando atacava. Alisson era o responsável por aproveitar os espaços, em transições ofensivas. Na primeira oportunidade Alisson parou em Hugo em chute na direção do gol, na segunda chance o ponta direita cruzou na cabeça de Diego Souza para abrir o placar. O erro é de bola descoberta da defesa rubro-negra. Antes da responsabilidade em si ser dos zagueiros, que não acompanharam o ataque atrás da linha defensiva de Diego  Souza, o erro é do setor de meio de campo que não exerceu a pressão no homem da bola para fazer o cruzamento. Um erro coletivo que representa bastante o Fla de Ceni até aqui: uma equipe que pouco realiza o trabalho de pós-perda e se sente mais segura defendendo atrás da linha da bola.

Apesar de tudo, o segundo tempo foi bastante desigual. Após o intervalo, o Flamengo não mudou suas peças, mas mudou seu desenho em campo e principalmente sua pressão pós-perda. O Fla iniciou o segundo no 4-1-3-2 dos tempos de Jesus: Everton Ribeiro e Arrascaeta abertos, Gabi e Bruno Henrique no ataque e Gerson sendo o terceiro homem de meio campo. O coringa tanto fez a transição defesa/ataque, como era mais um jogador no setor ofensivo. Isso fez com que o Flamengo tivesse superioridade qualitativa no meio de campo (que é ter a mesma quantidade de atacantes e defensores numa região do campo) e maior pressão na posse adversária, sufocando a saída gremista. E isso permite que, vencendo de duelos individuais através da técnica individual e coletiva, o setor ofensivo tenha vantagem.

Aos 11 minutos, Arrascaeta enfiou bola para Gabi, que vence o duelo contra Rodrigues e cruzou para Everton Ribeiro, sozinho sem a marcação de Diogo Barbosa, empatar o jogo. 3 minutos depois, Gabi tabelou com Gerson, vencendo Matheus Henrique, e atacou a meia-lua para, em linda finalização, virar o jogo. Aos 18 minutos, após avanço de Isla, Bruno Henrique venceu duelo com Kannemann e cruzou na pequena área, com superioridade qualitativa (2×2). Gabi e Everton Ribeiro atacam o espaço, porém o camisa 7 perde a chance do terceiro gol. Entretanto, a oportunidade não foi perdida 2 minutos depois: Gerson atacou o espaço entre os volantes, após passe de Everton Ribeiro, e deu a bola para Bruno Henrique aberto na esquerda. Gabi atacou o fundo e recebeu a bola do camisa 27. Arrascaeta só teve o trabalho de empurrar a bola para as redes, após assistência de Gabigol. O Flamengo fez 10 minutos no nível do time de 2019 e praticamente liquidou a partida.


Renato Gaúcho, já havia feito 3 alterações após o gol da virada rubro-negra (com as entradas de Maicon, Luiz Fernando e Everton), e também trouxe a campo Piñares no lugar de um Jean Pyerre, mais uma vez muito apático. Ceni trouxe João Gomes no lugar de Diego, para ser o primeiro volante com mais vigor físico. Após a vantagem estabelecida, o Flamengo voltou a atuar numa pressão média/baixa se defendendo num 4-4-2 e sofrendo pouco perigo. No único lance de ataque gaúcho na segunda etapa, Diego Souza acertou um petardo, em falta de fora da área, e descontou o placar. Com isso, Ceni tirou Gabi, Everton Ribeiro e Arrascaeta para dar lugar aos descansados Pedro, Pepê e Vitinho. Renato ainda colocou Isaque no lugar de Diego Souza mas, mesmo após o gol sofrido, o Mais Querido pouco sofreu com a pressão final gremista e, em contra-ataque, Vitinho encontrou Isla para dar números finais ao placar, 4×2.


No fim, por algo planejado de Ceni ou não, o Flamengo jogou seus melhores 10 minutos desde a saída de Jesus. A equipe finalizou quase o triplo de vezes que o adversário (8×3) e pouquíssimo permitiu que o Grêmio pudesse jogar, tanto pela volúpia ofensiva, quanto pela obsessão em ter a bola de volta nos primeiro 20 minutos da segunda etapa. Um time intenso com a bola, criativo e que amassou o adversário. O destaque técnico vai para Gabi, pela participação ativa em 3 dos 4 gols da equipe, entretanto o jogador que proporcionou o brilho do camisa 9 coletivamente foi Gerson: atuando mais avançado, conseguiu ser uma peça muito importante tanto no momento ofensivo (participando de 2 dos 4 gols) e no momento defensivo, sendo o principal responsável pela pressão pós-perda. Se o Mengão vai conseguir fazer minutos como os que fez hoje? Isso ainda é uma grande incógnita. Mas a esperança do título brasileiro ressurgiu na Arena do Grêmio.

SRN

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