Reprodução: Documentário Copa União - DVD

Imagem: Reprodução DVD

Após a emocionante “final” do Brasileirão 2020-21 entre Internacional e Flamengo, houve um resgate de momentos históricos da rivalidade entre o time rubro-negro carioca e o colorado gaúcho, e além do momento mais recente, de 2009 em que o Fla de Adriano, Petkovic e Andrade ganhou o título com Inter em segundo, também houve a final do Brasileiro de 1987, com a polêmica da Copa União, campeonato organizado pelo Clube dos 13 em parceria com a Varig, Rede Globo e Coca-Cola.

O documentário em longa-metragem Copa União registra bem essa historia. Dirigido por Diogo Dahl e Raphael Vieira o filme é fácil de achar no Youtube ou para venda, e conta com boas entrevistas, desde jornalistas como Roberto Assaf, Juca Kfouri, PVC até ex-jogadores como Bebeto, Renato Portaluppi, Zico, Zinho, Leandro etc, além de dirigentes da época como Michel Assef, Carlos Miguel Aidar, Márcio Braga, Estevam Soares.

No filme se fala das fórmulas de disputa, e de como não havia o costume de repetir o regulamento consecutivamente nos torneios do Campeonato Brasileiro, desde 1971. Em 1986 foi anunciado que teria a partir do próximo ano o sistema de divisões mais claras, com a instituição primeira e segunda divisão, mas a tentativa de virada de mesa de times como o Coritiba, melaram o campeonato de um modo que a CBF praticamente desistiu de organizar o campeonato

A imprensa cunhou o nome da associação que reunia  Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Bahia, Cruzeiro, Atlético-MG, Grêmio e Internacional como O Clube dos 13, e junto com ele veio a polêmica da composição da Copa União com 16 times, sem América-RG e Guarani, que foram as semi finais e finais respectivamente em 86. Juca Kfouri até destaca que desportivamente, eles teriam que estar no bolo, mas não tinham torcida de massa, portanto não estariam dentro dessa elite, não sendo comercialmente viáveis.

O apoio da Rede Globo é um bom sinal dos tempos bizarros que eram os anos 80 no futebol brasileiro. Os clubes a princípio não queriam tv ao vivo, porque se pensava que na época, isso tiraria publico dos estádios. Pesou a escolha pela televisionamento largo por conta de um motivo só, o dinheiro, aliás, os contratos milionários de televisão começaram exatamente na Copa União.

Toda aquela historia chata de Eurico Miranda sendo mandado como vice presidente do Clube dos 13, para verificar o regulamento proposto pela CBF é bem explorada. A confederação, após abrir mão de organizar o torneio, se “sentiu” desprestigiada no começo dos preparativos para a Copa. Nas palavras de Carlos Miguel Aidar, o líder do C13, Eurico traiu a diretoria dos clubes reunidos, e assinou de maneira arbitrária o documento que cruzaria os times desse Módulo Verde  (nome dado a Copa União pela CBF) e o Amarelo, que reunia os times de segundo escalão.

Essa decisão de não disputar o quadrangular com os primeiros colocados do módulo Amarelo segundo alguns dos presentes, foi unanime (Aidar diz não se lembrar como foi o voto do Vasco). No documental, Miranda diz, bravateiro como era, que disputaria sim com o time do módulo amarelo caso o Vasco chegasse a final, e falar isso aquela altura, era fácil, afinal, era Inter e Flamengo os finalistas do torneio.

Para o torcedor, vale muito a pena ver os depoimentos de lendas como de Zico, na época e mais atualmente, sobre os receios dele após uma lesão grave que teve e a possibilidade de parar de jogar, além de relatos de Leonardo, que era garoto na época, de figuras como Carlinhos Violino (o subestimado treinador), além do Doutor Runco, que fala abertamente sobre a condição de saúde de Zico e seus sacrifícios para entrar em campo. O time de Carlinhos fez um pacto para correr pelo Camisa 10, era um time tecnicamente forte, mas com muita raça e claro, garra.

Dahl e Vieira fazem um trabalho jornalístico e artístico bem interessado, apresentam um filme conciso e informativo, que apela para sentimentalismos difíceis de driblar. O único senão é a falta de aprofundamento sobre as situações posteriores na justiça, que deram ganho de causa ao Sport Recife, deixando como resposta a isso apenas a fala do Advogado Michel Assef, que afirma que o representante do Sport, ao tentar entrar no Clube dos 13, assinou um termo de que assumia o Flamengo como campeão de 1987.

Ainda assim, essa chata polêmica segue viva, e toda vez que o Rubro Negro se aproximar novamente do título do Brasileiro, se levantará de novo essa conversa mole, e ao menos, há esse documento histórico em forma de filme que demonstra os argumentos pró Flamengo, a despeito do descaso jurídico que as diretorias do Flamengo tiveram com esse causo. Além disso, mais do que qualquer chancela, o que realmente prova a justiça de que o campeão legítimo de 87 é o Flamengo é o testemunho de quem lá viveu e não tem a fala contaminada por interesses espúrios, e claro, o sentimento da torcida que comemorou o feito de Bebeto, Zinho, Zico, Ailton, Zé Carlos e cia.

Abaixo, o filme na íntegra.