Reprodução: Alexandre Vidal/CRF

O tão aguardado duelo entre os últimos dois campeões brasileiros começou com o Palmeiras deixando claro algumas de suas ideias. No seu 4-1-4-1 habitual em bloco médio/alto, Gabriel Menino foi o ponta-direita da equipe, com o objetivo bem claro de atrapalhar a saída de bola mais segura que o Flamengo vinha realizando nos últimos jogos, através de Filipe Luís pela esquerda. A ideia de Abel Ferreira era com isso sobrecarregar a saída flamenguista pelo lado direito, no qual o time não vinha realizado de forma qualificada com Isla, e além disso explorar o setor com o avanços do lateral esquerdo Viña. Na primeira estocada, o uruguaio recebeu boa bola de Menino e serviu Willian, que perdeu a grande oportunidade do Palmeiras nos primeiros 45 minutos.

Após o susto inicial, o Flamengo conseguiu dar uma boa resposta a armadilha criada pelo técnico palmeirense. Arão, tão contestado atuando na zaga, foi a peça fundamental para que o Flamengo conseguisse dominar o meio de campo na primeira etapa. Com seu passe qualificado e boa noção para atacar espaços, facilitou muito a quebra da linha de meio palestrina, pois conseguiu conectar de forma mais rápida e mais qualificada tanto os volantes rubro-negros, quanto ao lateral-direito Isla. Além disso, em algumas oportunidades, Arão fazia a ligação direita para Bruno Henrique (que sofria marcação quase individual de Marcos Rocha)  trabalhar numa segunda bola. O camisa 27 voltou a ser o ponta esquerda do 4-2-3-1 de Ceni, que também atuava em bloco médio/alto. Com isso, o Flamengo conseguiu fazer uma transição defesa/ataque com a posse mais rápida e trabalhar na região entre linhas do time paulista, que possuía somente a proteção de Danilo.



Em um jogo onde os times de postaram numa região de 40 metros na faixa central do campo, ter esse espaço permitia atacar com uma boa quantidade de espaço para as arrancadas de Gabigol (buscando receber em profundidade) e a criatividade de Arrascaeta novamente como um meia central. É preciso também destacar a boa atuação de Gerson e Diego por tanto dar poder de marcação e vencer os duelos no meio contra Raphael Veiga e Zé Rafael, por também participar do momento ofensivo pisando na área e sendo opção para gerar superioridade qualitativa no ataque. Além disso, Everton Ribeiro passou longe de ter feito seu melhor jogo tecnicamente, mas conseguiu ser bastante participativo atacando os espaços entre-linhas palmeirenses e conseguindo acionar Isla pela direita.

Dessa maneira, o Flamengo conseguiu dominar as ações na primeira etapa, produzindo as melhores oportunidades de marcar com Gabi e, num lance de total infelicidade da dupla alviverde, marcar 1×0 aos 45 minutos após a roubada de bola de Gabriel. O primeiro tempo terminou com o Flamengo melhor, porém com um problema: a lesão de Rodrigo Caio e a entrada de Gustavo Henrique. O zagueiro de 1,96m ainda não ainda está confortável para trabalhar com os pés e já no final da primeira etapa teve dificuldades para fazer a saída com os volantes. E isso ficou mais latente na segunda etapa,. Sem outro zagueiro com qualidade para qualificar a saída de bola, o Flamengo começou a ter mais dificuldades para furar a linha de defesa palmeirense pela menor qualidade no passe: o Flamengo caiu de 85% dos passes certos no primeiro tempo, para 77% nos 45 minutos finais. Com isso, o jogo foi ficando cada vez mais equilibrado. Enquanto Gabi perdeu a oportunidade de fazer 2×0 após bom passe de Bruno Henrique, em outra estocada pela esquerda, Viña encontrou Raphael Veiga, que cruzou rasteiro para Willlian chutar prensado em Gustavo Henrique. Menino pegou a sobra livre na grande área e perdeu a grande oportunidade do Palmeiras no segundo tempo.

O Palmeiras começou a acreditar mais no empate e fez 3 mudanças: Luiz Adriano, William e Viña deram lugar a Breno Lopes, Lucas Lima e Gustavo Scarpa. Dessa forma, o técnico português do Palmeiras tentou, com mais um homem no meio de campo, dominar o setor e dando amplitude com Scarpa pela esquerda. Rogério respondeu com uma substituição que tentou espelhar o meio de campo alviverde: João Gomes no lugar de Arrascaeta. Com isso, o Flamengo tentou emular o 4-1-4-1 palmeirense com mais força na faixa central. O jogo foi se tornando cada vez mais pegado e com poucas oportunidades. Ceni decidiu reoxigenar o meio de campo com Pepê e Vitinho no lugar de Diego e Gerson, além de tirar o pendurado Gabigol para a entrada de Pedro. Após bom chute de fora da área de Bruno Henrique e defesa de Weverton, no escanteio seguinte cobrado, Pepê recebeu passe de Pedro na grande área e fuzilou para sacramentar a vitória rubro-negra, 2×0.

Com o placar adverso, Abel Ferreira sacou Danilo e colocou mais um atacante em campo, Gabriel Silva. Marcos Rocha foi deslocado para a zaga e o Palmeiras tentou um abafa final numa espécie de 3-4-3. Com Bruno Henrique sentindo caîmbras, Vitinho, que vinha atuando no lugar de Arrascaeta, foi deslocado para a esquerda e o Mengão se defendeu nos minutos finais num 4-4-2 que pouco sofreu.

No fim, a vitória rubro-negra premia a ousadia de Ceni em buscar qualificar mais a saída de bola com Arão na zaga. É claro que foi somente o primeiro jogo de Arão na zaga e, possivelmente, o volante de origem sofrerá com mais instabilidades na posição, contudo a atuação do camisa 5 foi a chave da boa vitória da rubro-negra em Brasília, pois possibilitou que a equipe fosse mais agressiva no Mané Garrincha. Também é necessário destacar o embate tático entre Ceni x Abel Ferreira, no qual o técnico rubro-negro conseguiu responder à altura as armadilhas criadas pelo técnico português. Apesar da grande quantidade de críticas recebidas nas últimas semanas (em que parte delas são justas), Rogério deu uma ótima resposta em um jogo muito complicado.