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Jayme de Almeida, ex-jogador e técnico do Flamengo, que completou 68 anos recentemente, bateu um papo exclusivo com o nosso portal em homenagem ao dia da consciência negra.

Um dos grandes nomes da rica história rubro-negra, o ex-zagueiro disputou 198 partidas com o Manto e marcou três gols. Além de ter comandado o time na terceira conquista da Copa do Brasil em 2013. Todavia, Jayme lamentou parte do racismo estrutural que acontece dentro do futebol brasileiro.

— O futebol brasileiro está inserido na sociedade brasileira, então o que acontece na sociedade é a mesma coisa que acontece no futebol. As oportunidades para a pessoa da raça negra, não tem oportunidade nenhuma! A realidade é essa.

Andrade e Jayme de Almeida foram os últimos técnicos negros campeões no país; um pelo Brasileirão e outro pela Copa do Brasil. No entanto, o ex-técnico foi tudo parte de “um acaso”, já que ambos eram interinos do Flamengo em dado momento.

— Foi por um acaso, naquele momento eu e Andrade estávamos no lugar certo e assumimos o clube e deu certo. Não foi escolha de dirigente ou presidente, foi escolha do momento, éramos auxiliares do Flamengo e houve a saída dos treinadores (Cuca em 2009 e Mano em 2013), e aproveitamos a oportunidade. 

Jayme e Andrade, ambos foram campeões no Flamengo. – Foto: Reprodução

Jayme revelou que nunca mais teve a oportunidade de trabalhar por nenhuma outra equipe. Para o treinador, além do preconceito, a idade também é um fator de certo preconceito para assumir algum clube.

— Eu nunca mais fui chamado pra treinar nenhum outro clube do Brasil. Fui campeão da Copa do Brasil e do estadual em apenas 7 meses, foram 2 títulos. Após isso, eu nunca fui convidado para trabalhar por nenhum times da 1ª ou 2ª divisão.  As oportunidades para nós negros são menores e para mim que tem 68 fica ainda mais difícil. Ah, e para mim, só há 1 técnico negro na série A hoje. O Marcão é tratado pelo Fluminense e pela mídia como um interino. A imprensa não acredita que Marcão será ou pode ser o técnico do Flu, a realidade é essa. Mas nós temos que continuar lutando pelo nosso espaço. 

Jayme de almeida crítica altos valores dos ingressos atuais e também cita o entorno do futebol brasileiro, com poucos espaços para profissionais negros.

— Eles contam uma historinha linda de como nosso país é ”alegre e feliz”, mas nos clubes e empresas tem poucas pessoas negras em altos cargos. Presidente de clube? Não tem! Radialistas? Poucos! Jornalista? Difícil! O futebol não é só em campo, é no entorno também. O próprio torcedor (negro) passou a não ter mais espaços no estádios, porque ficou tudo caro e a grande maioria da população de baixa renda é dominada pela população negra. A grande maioria das pessoas que vivem na pobreza são negras, isso é decorrência da escravidão que não tivemos o cuidado certo para ajudar o povo que fez o país. Nós não tivemos espaços, eu fico triste! Acabaram com a geral, os preços são caros e o povo mais humildade ficou de fora até nisso, de torcer. 

Já aposentado, Jayme de Almeida chegou ao Flamengo para ser auxiliar técnico de Vanderlei Luxemburgo, em 2010. Ao longo dos anos, teve experiência como técnico interino em algumas oportunidades. No entanto, só foi efetivado em 2013 após a polêmica saída de Mano Menezes – conquistando assim a Copa do Brasil e o Carioca de 2014.

SRN
Matéria feita por @pabloraphaelrua