Lembra desse vídeo do técnico Renê Simões? O Flamengo anunciou a contratação do técnico Jorge Jesus no dia 01 de junho, e dias antes de fechar, Renê Simões falou sobre a ótima contratação do time rubro-negro dentro e fora das 4 linhas e chocou como ele foi preciso nas qualificações do treinador na época que quase ninguém conhecia o trabalho do Mister, o que ele acha sobre o assunto? Fizemos uma entrevista exclusiva onde o Professor Renê, fala sobre o Mister, Flamengo e até da comparação entre Cristiano Ronaldo e Bruno Henrique, que viralizou na internet.

Perguntamos ao Renê Simões:

1 – Você já sabia da competência de Jorge Jesus, mas te surpreendeu o sucesso a curto prazo?

– Já, já sabia da competência dele, sabia que ele tinha um método muito próprio. Óbvio que todos ficaram surpresos com o sucesso muito rápido. E isso se deve ao contexto. Tem uma frase que eu gosto muito que é a seguinte: quem de um contexto tira um texto arruma um pretexto. O contexto do futebol é: política do clube, a política de contratação, a política de manutenção, a política econômica, os jogadores, o treinador e a performance do time. Esse é o contexto. Quando você analisa só uma coisa você tira um “trecho desse contexto e arruma um pretexto” para dizer, oh, esse treinador é muito ruim, os salários estão atrasados, os jogadores não tem alimentação, os voos são todos de carreiras, você perde 5, 6 horas no aeroporto, depois você perde 5, 6 horas num avião… Então nesse contexto todo o Flamengo estava preparado, toda estrutura do CT, toda cabeça dos dirigentes do flamengo. São todos grandes executivos e estão acostumados a trabalhar com planejamento. E o planejamento de uma empresa tem inicio, meio e fim. O Flamengo estava todo preparado e por isso teve essa campanha toda.

 

2 – Muitos técnicos e jornalistas preferiram atacar o Mister, desvalorizando até os trabalhos dele do passado, enquanto você foi um dos poucos que trouxe fatos e elogios. Por que ainda existe esse tabu aqui no Brasil com a metodologia da Europa em treinamentos na sua opinião?

Não é só no Brasil, isso existe no mundo todo. Todo mundo tem a sua reserva de mercado, eu já trabalhei em 7 países e todo pais que eu cheguei, óbvio, que os treinadores locais nunca ficaram tão satisfeitos, sempre deram as cutucadas deles e você tem que saber que é assim mesmo. Então não é especificamente quanto a uma metodologia. Até porque o método do JJ é muito próprio.

Se você pegar o Josualdo, por exemplo, você vai ver que é um cara que veio muito focado em conceitos da Universidade, em planejamentos táticos feitos, experimentados e validados.

Renê no São Paulo / reprodução: Internet

3 – Ano passado 2 técnicos estrangeiros ficaram no topo do campeonato brasileiro (Jesus e Sampaolli), em sua opinião por houve essa predominância?

– Eu acho que no caso do Flamengo foi todo esse contexto que eu falei. No caso do Santos foi por uma questão muito interessante, porque o Sampaolli era um treinador estrangeiro. Porque se fosse um treinador brasileiro não teria continuidade, quando o Santos perde de 5 para o Ituano, quando ele perdeu o campeonato paulista, saiu da Sul America e saiu da Copa do Brasil, ele não faria o campeonato brasileiro. Então foi dado a ele um ano inteiro. Quais foram os treinadores que conseguiram um ano inteiro? Renato e o Sampaolli, nenhum outro teve. E o Renato chegou bem no campeonato, lá na Libertadores. Ah! O Thiago Nunes que chegou muito bem também no campeonato que já era campeão da Copa do Brasil. O que acontece é que o treinador teve longevidade e essa longevidade dele fez com que ele pudesse colocar o planejamento dele.

4 – Desde quando você acompanha o trabalho de Jorge Jesus? E como conheceu com detalhes o trabalho dele?

Olha, em 2012 eu tava no São Paulo e nós fizemos um planejamento: o Método com padrão São Paulo de qualidade. Então… nós montamos um planejamento baseado em pesquisas que nós fizemos ver como jogava o São Paulo. E aí eu quis fazer um Simpósio Internacional, e o Evandro Mota, que faz a orientação e o desenvolvimento mental junto ao JJ já há bastante tempo estava lá. O Evandro é um fenômeno, em 85 o Botafogo foi campeão brasileiro, o Evandro. Depois o Abel foi campeão da Libertadores, o Evandro estava lá. Foi campeão do Brasil com o Parreira. E eu liguei para o Evandro e disse que estava querendo um treinador…E ele já estava trabalhando em Portugal 2 ou 3 anos. “estou querendo trazer um treinador para o Brasil, um treinador diferente, mas não queria aquela mesmisse” e ele na hora respondeu: Jorge Jesus! Meu treinador aqui do Benfica.

E aí eu passei a acompanhar mais os jogos do Benfica e depois do Esporte para ver o que ele tinha e o que ele fazia. Comecei a ver e ir tirando as minhas conclusões.

Daí é que vem essa admiração e algumas coisas eu coloquei, como o treinamento em sala, que eu acho fantástico. É o quê, o porquê, como e para quê você vai fazer alguma coisa. Porque o futebol brasileiro (nós) sempre nos preocupamos com execução, eu mesmo fiz mentoria de alguns treinadores e eu perguntava para ele: o que te aborrece num jogador? E eles respondiam: quando ele cruza mal, chuta mal, etc. Isso tudo é execução!! E pensar o jogo? Como que ele pensa o jogo? Ele sabe que esse jogo é diferente do outro? O que a gente vê o jogador falando muito no intervalo do jogo?: vamos virar esse jogo, vamos ver o que o professor tem para falar para “nós”. Pouquíssimos jogadores você escuta ele falando: olha, nosso time foi pressionado no meio de campo, tá faltando espaço, vamos virar essa bola mais rápido para outro lado, vamos acelerar, etc. Mas a gente só pensa na execução. E isso o Flamengo faz muito bem com a bola e sem.

5 – Muitos analistas falam que o fato de Jesus não poupar jogadores pode não dar produtividade completa dos jogadores ao longo da temporada, o que você acha? Esse costume de poupar jogadores em jogos menos importantes, você concorda?

– O que acontece é que essa de não poupar jogador nenhum não é o estilo JJ. Vocês vão ver essa temporada ele poupando três nesse jogo, três no outro jogo. O que acontece é que ele não tinha banco. Ele tava chegando e tinha que ganhar os títulos e correu o risco no último jogo, que os jogadores chegaram lá com 74 jogos (se não me engano) contra 26 ou 27 do Liverpool e todo mundo diz que foi um jogo de igual para igual e eu não acho, não acho que foi igual para igual nao. Eu acho que o comportamento do Liverpool foi o mesmo comportamento que o Flamengo teve quando jogou contra o Santos. Aquele jogo o Flamengo não se interessou pelo jogo. E o Liverpool queria ganhar, mas não se interessou como ele se interessa em jogos do campeonato inglês. Ele jogou, mas é um grande time, difícil de ser batido, e se ele joga com a intensidade que ele costuma jogar, o Flamengo teria mais dificuldades. Agora, teria mais dificuldades porque não tinha elenco. Agora o Flamengo tem elenco que dá para fazer essa rotatividade. Até porque não precisa e não há como fazer isso principalmente com esse clima que nós temos aqui: quente, e frio, e húmido, e seco. É uma variedade muito grande.

6 – Flamengo de 81 ou Flamengo de 2019? Qual você gostaria de treinar?

– Eu gostaria de treinar todos dois. Mas eu acho que o time de 81 era mais brilhante! Rafinha: excelente jogador, jogador de seleção brasileira, mas o Leandro era uma coisa diferente. Ele era diferente, toda vez que a bola caía nos pés do Leandro ele furava a bola, era coisa de absurdo! Aí você vai para o outro lado, Junior e Felipe Luis. O FL é uma grande jogador, mas o JR é um maestro pela lateral, um bailarino! Então… bem diferentes! E aí o Flamengo tinha um cara chamado Zico. Aí num dá! Num dá para você discutir isso. Num dá para discutir o Zico. E os outros se igualam: Arão com Andrade, que são ambos excelentes. Aí voce vai pegando e vai comparando, eu gostaria de treinar os dois, pode ter certeza disso! Mas eu acho que o time de 81 era mais bonito, não tenho duvida disso não!

7 – Qual dos jogadores hoje do Flamengo você levaria para a seleção brasileira?

Bom, eu levaria alguns. Bruno Henrique, sou fã desse cara. Todo mundo me criticou, me chama de maluco, mas eu continuo falando a mesma coisa: fantástico, fantástico e fantástico. O que ele faz… ele e o Cristiano Ronaldo. Agora: para você ser o que o Cristiano Ronaldo tem sido, aí tem um caminhão de coisas para fazer, é você saber lidar com dinheiro, saber lidar com a fama, é você jamais desistir, acreditar o tempo todo que as coisas vão ocorrer para você, é você querer mais, cada vez que você envelhece é querer mais e trabalhar mais e ter mais recordes, mas aí é coisa de louco!

Eu levaria o Bruno Henrique, eu acho que o Gabigol tá amadurecendo, acho que o Arão, quando você compara com o Casemiro, a briga tá boa dos dois ali, uma bela briga. Os laterais imediatamente! Acho que já está numa época de você ter mais folego nas laterias da seleção brasileira, acho que o tempo deles passou, talvez se não tiver uma ou outra escolha, o Felipe Luis possa ir.

O Gerson eu acho que ele bola de seleção brasileira, eu só não sei se o Gerson tá a cabeça ainda de um jogador de seleção brasileira. Porque quando chega lá, meu amigo, tudo modifica! E o Rodrigo Caio tem jogado uma enormidade

8- Qual jogador do atual elenco você mais admira? E por que?

Olha, eu vou dizer para você, que o Everton RIbeiro é o jogador que mais me encanta no Flamengo hoje. É impressionante como ele arruma soluções, como ele cresce nos jogos difíceis e como ele se movimenta criando espaços para os outros e fazendo assistências, passes, muito bom! É o grande capitão do Flamengo hoje e por méritos:méritos de comportamento, mérito técnicos… Tem mérito de tudo ele para ser o capitão!