Foto: Infoesporte

A maior tragédia da história do Clube de Regatas do Flamengo completa nessa segunda-feira dia 8 de fevereiro dois anos. Em 2019, que foi a temporada mais vitoriosa do futebol desde que Zico se aposentou, o ano começou triste e revoltante, com um incêndio que vitimou muitas crias da base flamenguista, no Ninho do Urubu, Centro de Treinamento do Flamengo localizado em Vargem Grande.

No lugar onde ocorreu o incêndio, foi iniciada a construção de uma capela, um memorial para homenagear as vítimas. A inauguração desta não tem data ainda, e a pergunta que fica é: essa será a maior das ações do clube a respeito dos meninos de suas famílias? A resposta ao menos por enquanto é sim.

As 10 vítimas fatais foram Athila Paixão de 14 anos, Arthur Vinícius 14 , Bernardo Pisetta, 14, Christian Esmério 15 , Gedson Santos 14 , Jorge Eduardo Santos 15 , Pablo Henrique da Silva Matos, 14 anos, Rykelmo de Souza Vianna 16 , Samuel Thomas Rosa 15 anos, Vitor Isaías 15 . Entre essas, o Fla chegou a acordo com oito famílias. Com uma delas, as negociações avançaram com um dos pais (o pai de Rykelmo aceitou, já a mãe não, entrou na justiça) com a família de Christian Esmério, não se chegou a um entendimento.

Vale lembrar que a maioria das famílias aceitaram o acordo por dificuldades financeiras, foram literalmente vencidas pelo cansaço, agravado o quadro pelo cenário de pandemia que o país sofre. Os acordos, injustos em sua maioria, foram aceitos para ter algo e não ficar sem nada. Além dos meninos que morreram, haviam outros 16 garotos no alojamento no dia do incêndio, sete seguem no Flamengo, desses, três que ficaram hospitalizados, Cauan, Francisco Dyogo e Jhonata Ventura. Ventura ainda não voltou a jogar. Ele apresenta uma recuperação gradual das queimaduras que teve, e alterna trabalhos individuais com treinos com o elenco do time sub-17. Na última sexta, fez exames médicos e testagem de Covid para poder retomar as atividades junto com os companheiros.

Dos sobreviventes, segue no Flamengo segundo informação do setorista do GE Fred Huber: Cauan (atacante), Francisco Dyogo (goleiro), Filipe Chrysman (atacante), Kayque Soares (zagueiro), Rayan Lucas (volante), Samuel Barbosa (atacante), Jhonata Ventura (zagueiro). Entre os que saíram, estão Jean Sales que está no  Alverca, de Portugal, Caike Duarte sem clube, Felipe Cardoso que assinou com o RB Bragantino, João Vitor Gasparin sem clube,  Naydjel Callebe que passou a treinar futsal no time da Copagril e está em busca de um clube, Wendel Alves no Corinthians,  Kennyd Lucca que passou pelo Corinthians e defende o Bahia, Pablo Ruan que deixou o Flamengo por conta própria e foi para o Palmeiras, Gabriel de Castro que está sem clube.

Além disso, a justiça aceitou a denúncia, que atualmente, conta com 11 réus. A decisão é de 15 de Janeiro de 2021, entre os réus está o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello. Eles responderão por incêndio culposo (sem intenção) qualificado, que terminou com a morte de 10 pessoas e lesão corporal a outras 3. Como não foram denunciados por homicídio, eles não vão a júri popular. Em crimes deste caso, na forma culposa, o Código Penal não prevê pena de prisão em regime fechado. As punições podem variar de 1 ano e quatro meses até 6 anos. Os réus são  Eduardo Bandeira de Mello ex-presidente do Flamengo, Márcio Garotti ex-diretor financeiro do Flamengo, Carlos Noval ex-diretor da base do Flamengo, atual gerente de transição do clube, Luis Felipe Pondé engenheiro do Flamengo, Marcelo Sá também engenheiro, Marcus Vinicius Medeiros monitor do Flamengo, Claudia Pereira Rodrigues da NHJ (empresa que forneceu os contêineres) além
Weslley Gimenes, Danilo da Silva Duarte, Fabio Hilário da Silva todos da NHJ. Edson Colman da Silva técnico em refrigeração completa a lista.

É preciso que os tribunais sejam mais céleres na apuração, e que se tire a ideia de que Justiça é meramente o pagamento de indenizações. Quando ocorreram tragédias pelo mundo desportivo, lá fora, o que cobrou foi justiça, e não pagamento. É óbvio que essas famílias precisam ter ressarcimentos exemplares, que dificilmente ocorrerão e que mesmo que ocorressem, não trariam as crianças de volta, mas há também de se fazer justiça no sentido de marcar com culpa quem era de fato responsável por terem colocado meninos  adolescentes e crianças em uma arapuca, em um armadilha que já se sabia que poderia matá-los. Enquanto isso não ocorrer, a mancha em cima de time e torcida perdurará, sem falar na tristeza, que certamente prosseguirá vívida  na memória de quem é Flamengo e de quem se importa com as vidas.