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Após quase 26 meses da tragédia no Ninho do Urubu que vitimou fatalmente 10 crianças nas dependências do CT do Flamengo ainda se repercute os acontecimentos terríveis. Daniele da Silva, ex-funcionária de serviços gerais, demitida no último 24 falou sobre o não funcionamento dos extintores de incêndio.

A informação foi dada aos jornalistas Lucas Felbinger e Venê Casagrande.

“Não usei extintores. Porém, vi que apenas um funcionou, do total de cinco. Neste dia, cheguei por volta de 05h50 ao Ninho, passei pela portaria central, bati meu ponto, dei bom dia ao segurança de plantão e desci. Chegando lá, estava tudo normal. Depois de um tempo, avistei uns atletas na porta do contêiner e uma fumaça preta com clarão saindo pelo teto. Saí correndo para a portaria, onde havia passado alguns instantes antes, e chamei o segurança. Ele veio correndo para ajudar. Quando chegamos em frente ao contêiner, o fogo já estava intenso. Foi muito rápido. Fiquei parada vendo aquilo tudo na esperança de não ter mais ninguém lá dentro. Mas logo saiu um menino e disse: ‘tia, tá cheio de gente lá dentro’. Eu pirei na hora. O fogo já tinha tomado conta da única porta de entrada do contêiner”

A fala de Daniele conversa bem com a versão de Benedito Ferreira, o segurança citado por ela, dita no Fantástico.

“No início, usei um extintor. Um garoto tentou utilizar o segundo, não funcionou. Me passou, não funcionou. Teve um terceiro, que não funcionou”,

Segundo a moça, ela teve que voltar a trabalhar no Ninho uma semana após o incêndio, mesmo após a situação traumática, ainda com escombros chamuscados do contêiner. Ela pediu transferência para o Cefan, local onde ocorrem as peneiras e foi atendida, embora ainda tivesse que retornar ao local esporadicamente.

A ex-funcionária também alega que não pediu demissão, como foi dito pelos veículos ligados ao clube.
“Estavam me explorando no Ninho. Era auxiliar de serviços gerais, mas o Luiz Humberto me colocava na função de camareira, arrumando camas e quartos. Acho que eles não tinham como me manter como funcionária para sempre, mas o Gerente do CT e chefe de RH sabiam do trauma que vivi enquanto eles estavam em suas casas dormindo. Eu tinha dito que se fosse para trabalhar no Ninho, passar esse sofrimento, essa depressão, era melhor que me mandassem embora. Eu não pedi a demissão. Eu falei no ar e eles levaram a sério. Levaram para o coração. Com um salário de R$ 1 mil dentro de uma pandemia, ia preferir ficar sem emprego?”.

Daniele disse também que recebe um psicólogo pago pelo Flamengo, mas que não recebeu qualquer acréscimo para pagar os remédios do tratamento:

“Me ajudaram e ainda ajudam com tratamento psicológico, mas nunca compraram meus medicamentos. Sempre enviei as receitas para Roberta Tanure (chefe do RH). Ela visualiza as minhas mensagens e nada. Às vezes, fico sem tomar os medicamentos por não ter condições de comprá-los. Eles alegam que compram, mas não é verdade”, desabafou.

Opinião: Há um bocado de questionamentos a se fazer a respeito dessa questão. Daniele foi demitida e resolveu falar após ser desligada do clube. Dentro das suas postagens em redes sociais – e até da matéria de Venê e Felbinger – se percebe que ela ficou realmente muito tocada com a questão da tragédia e que não queria voltar a trabalhar diretamente no CT. É bem comum em situações traumática a “ficha” só cair muito tempo depois, mas de qualquer forma, essa história  precisa ser averiguada e investigada pelas forças policiais. A essa altura, o ex-presidente Bandeira de Mello dificilmente será  responsabilizado por qualquer coisa, já costurou acordos e chegou ao cúmulo de se candidatar a prefeitura do Rio de Janeiro em 2020. Ele, Rodolfo Landim e demais dirigentes deveriam ser ao menos investigados, e deveriam pagar a justiça, não só indenizar com dinheiro as famílias.

Há lembrar dos dez meninos, Arthur Vinicius, Athila Paixão, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías, é preciso que a justiça seja feita.

Twitter: filipereiral