No próximo sábado, a familia de Rosana de Souza a verá subindo ao altar novamente. A data do  casamento foi escolhida em homenagem ao filho Rykelmo, jovem atleta vítima do incêndio no CT do Flamengo.

Rykelmo ao lado da mãe. Foto: Reprodução/internet

 

Embora pareça recomeçar aos 50 anos, Rosana é a única parente que entrou com ação contra o clube, em que pede R$ 6,9 milhões em indenização e pensão. O processo começou depois que o pai de Rykelmo ressurgiu após a tragédia para fechar um acordo com o Flamengo, segundo a mãe, no valor de R$ 600 mil, o que inviabilizou suas conversas.

– Eles se aproveitaram, ofereceram uma quantia, e o pai dele aceitou. Ele me prejudicou. Daí o Flamengo não fechou o acordo comigo, só com o pai dele. Minha advogada entrou em contato, não houve acordo, então a única coisa era entrar com a ação – explica, depois de recusar o mesmo valor ofertado ao pai.

– O pai do Rykelmo aceitou R$ 600 mil. Eu não ia pegar. Sendo que o Rykelmo morava comigo, eu tenho a guarda. Ele recebeu esse dinheiro e eu não assinei nenhum acordo. Ele foi de gaiato. Resolveu ser pai na hora e atrapalhou – completa.

O imbróglio jurídico promete se arrastar, já que a mãe tenta anular o acordo do pai. Enquanto isso, Dona Rosana passou os últimos dias relembrando os momentos que teve com Rykelmo antes dele se apresentar ao Flamengo no ano passado. Era nas férias do jogador, em janeiro, que ele ajudava a mãe nos afazeres do dia a dia, como ir ao mercado em Limeira, interior de São Paulo.

– Olho para rapazes da idade dele e dá uma angústia, uma dor, mas ele foi atrás de um sonho dele – lamenta Rosana.

Coletora da lavanderia de um hospital na cidade, a mãe de Rykelmo abandonou o emprego, pois não conseguia mais lidar com corpos que entravam e saiam, inclusive de queimados. Agora, vive de bico, enquanto mora com uma filha de 13 anos e outra de 30, que é especial, no terreno da casa da mãe.

Do Flamengo, recebeu pensão de R$ 5 mil durante três meses, mas quando a Justiça determinou que o valor fosse para R$ 10 mil não teve o aumento.

– Era o sonho do Rykelmo me dar uma casa e um carro. O que o Flamengo me ofereceu não dava para fazer isso – justifica Rosana.

A lembrança fica mais na memória. De concreto, a mãe guarda uma camisa antiga, já que os uniformes eram trazidos para os amigos. Sobrou também uma chuteira. E apenas uma foto. Já que o jovem que registrava os momentos com a mãe em seu celular, que pegou fogo.

Para Dona Rosana, a briga na Justiça não é para ficar rica as custas do clube.

– Mas meu menino tinha um valor para mim. Ele sentia saudade de casa. E eu com o pensamento nele. Esse é nosso sofrimento. E o Flamengo queimou nossos sonhos, nossos desejos. E o que é de direito, pode custar o tempo que for, passo o perrengue que for, mas vou lutar – promete, antes de encerrar com uma sugestão à diretoria do clube.

– Flamengo é um time rico, com muitos jogadores vendidos. Um jogador que ele vende daria pra pagar todas as indenizações.

Fonte: Diogo Dantas, extra