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Em entrevista exclusiva ao site Urubu Interativo, o técnico Jayme de Almeida, que foi campeão com o Flamengo em 2013 pela Copa do Brasil e o último campeão negro nacional no futebol brasileiro, revelou como foi ganhar aquele torneio em meio a uma reestruturação no clube e após a saída de Mano Menezes, técnico que era considerado um dos melhores do Brasil na época.

Jayme se mostrou bem feliz com o Flamengo atual e evitou comparações com o time e os jogadores de 2013. O ex-comandante não vê chances de um possível retorno ao time, porém questionou a falta de oportunidades para técnicos negros no país. Atualmente, Jayme não está no comando de nenhum clube.

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1 – Você acha que o Rodrigo Muniz tem o estilo de jogo parecido com ao de Hernane Brocador?
Para mim é difícil comparar porque eu vi muito pouco do Muniz, seria até uma falta de respeito com o garoto; só vi que ele é artilheiro igual ao Brocador, mas não tem como mensurar se eles são parecidos.

2 – Como último técnico campeão nacional negro. Você acredita que faltam oportunidades, não só para você, mas também para outros técnicos negros? Você sonha em retornar ao Fla como técnico algum dia?

É lógico que falta oportunidade aos técnicos negros no futebol praticado aqui no Brasil. Isso é um reflexo do que acontece na sociedade, com as grandes oportunidades que são todas para as pessoas de um maior poder aquisitivo.
No caso do negro, a sociedade sempre viu de um modo “marginalizado” e as oportunidades são poucas para conquistar algumas coisas. Você não vê quase nenhum técnico negro atuando, então as chances de alguém ser um campeão nacional como eu fui é muito difícil. Voltar para o Flamengo acho que não tem a menor possibilidade, essa questão já está definida.

3 – Em 2013, como você ganhou o vestiário e levou o time a vencer a Copa do Brasil que parecia muito difícil, mesmo com um time que ainda estava se reestruturando?

Foi um momento difícil que o Flamengo passava com a saída do Mano. Eu consegui com a ajuda da comissão do Flamengo que era bastante experiente e conhecia muito o clube. Eu também conhecia muito bem aquele plantel, porque eu estava na equipe desde 2010. Além de me conhecerem também, eles já sabiam minha forma de trabalhar e a minha personalidade. Isso com certeza facilitou, chegou um treinador que eles já conheciam, acabou dando uma liga boa e conquistamos um torneio que pouca gente acreditava.
Eu tenho muito respeito e carinho por aquele grupo, saíram de uma situação difícil e reverteram um título tão bonito ao Flamengo.

4 – O que você acha sobre o Rogério Ceni? Gabi e Pedro podem jogar juntos? Você escalaria os dois em seu time?

Rogério Ceni tem pouco tempo no Flamengo, chegou agora e já conquistou um título importante. Deixa o cara trabalhar em paz rs (sic), mostrar o que ele pensa de futebol no Flamengo e ver se sai os resultados. É um grande profissional, correto pra caramba e eu acredito que possa fazer um grande trabalho.
Quanto a Pedro e Gabi é uma questão de treinamento; treinar os dois para ver se tem o entrosamento legal com o próprio time, mas impossível não é.

5 – Você atuou pelo Flamengo no início da era Zico. Não chegou a fazer parte do time histórico campeão de tudo de 1980-1981, mas fez parte da construção dessa história. No tempo que você esteve no Fla em campo, você sentia esse potencial no Zico como um dos principais jogadores brasileiros da história, e que aquele grupo seria tão campeão e você poderia participar deste esquadrão?

Eu convivi com o Zico desde os 15 anos, desde o início a gente sempre viu que o potencial do Zico era muito grande, desde da categoria de base. Eu tenho muito orgulho de jogar com ele, Cantareli, Rondinelli, Geraldo, Junior, Adílio etc. Tenho muito orgulho de ter jogado com eles. Eu acredito que eu era um bom jogador, já tinha passado pela seleção, poderia ter feito parte daquele plantel, mas eu fico muito feliz por eles terem conquistado tudo e para mim é um orgulho muito grande. Além de ser flamenguista, eles são amigos que estão comigo até hoje.

6 – Em 2013, você ainda como auxiliar técnico participa da mudança de comando no Fla e a chegada de Eduardo Bandeira de Mello à presidência do clube. O quão diferente era a organização do Fla antes e após Bandeira? E como você acredita que a chegada dele mudou a história do clube?

Bandeira quando foi eleito, priorizou a organização financeira do clube, e com isso sofreu uma pressão muito grande dos conselheiros e da torcida, porque o Flamengo investiu muito pouco. Mas a meta dele era organizar essa parte e ele resistiu a essa pressão toda, fazendo o Fla se tornar o que é hoje.
Então, tem que tirar o chapéu pela conduta e pela forma que a diretoria entendeu que aquele momento o clube precisava acertar as coisas naquele momento. Foi feito e hoje o Fla é um dos maiores do mundo, acertou as finanças com o potencial da marca e com a ajuda da torcida, vem investindo em atleta de alto nível e ganhando quase tudo.

7 – Quais são as principais diferenças do time campeão da Copa do Brasil de 2013 com o Flamengo campeão de 2019 e 2020? E quais são as principais coisas em comum entre os dois times?

É muito difícil comparar a equipe de 2013 com a de 19/20, são momentos diferentes, mas o que é bonito é que ambas as equipes conquistaram títulos muito importantes para o Flamengo. Tenho orgulho de 2013, foi mais sofrido do jeito que as coisas foram caminhadas. Com toda certeza as conquistas de 2019 também são muito importantes para a torcida, mas são épocas diferentes e jogadores diferentes, todos estão de parabéns.

Repórter: Pablo Raphael / Twitter: @Pabloraphael_rua

Apoio de texto: @Douglasfortunato / @shayennefurtado

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