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Produzido por Lucy e Luiz Carlos Barreto, Uma Aventura do Zico é uma comédia infantil que mostra o recém aposentado Arthur Antunes Coimbra selecionando crianças para serem treinadas por ele, enquanto uma delas, frustrada por não ser selecionada, pede ao seu pai para fazer uma experiência a fim de produzir uma cópia perfeita do Galinho de Quintino. Obviamente a experiência não dá certo, e o drama todo gira em torno disso, de duas versões de Zico, convivendo nesse mundo sem noção.

O filme é  dirigido por  Antônio Carlos da Fontoura (da pornochanchada Espelho de Carne e do filme sobre Renato Russo, Somos Tão Jovens) além disso, mistura elementos de ficção científica com um clima semelhante as telenovelas populares. O elenco infantil é formado por meninos do Brasil inteiro, nordestinos, meninos da favela carioca, até uma menina gaúcha de Alegrete participa, incluindo ai um plot bizarro, onde ela finge ser um garoto, em uma tentativa de desmistificar a homofobia e machismo no futebol, mas sem trazer questões problemáticas ou propor debate, essas questões são só levantadas.

O filme resgata sucessos da época, como o hit “Ah, eu to maluco”, usa a exaustão a música, como aliás é bem comum ainda entre as comédias da Globo Filmes atualmente. O orçamento é baixo, os cientistas que trabalham com clonagem usam roupas baratas e tentam parecer arrojados usando óculos escuros de armação pequena e os cenários são roxos e cinzas, com iluminação precária, seria impossível fazer um experimento naquelas condições, certamente. É tudo bastante risível e irreal, mas ainda tem um charme, de uma produção que claramente não se leva a sério.

Zico treina os meninos no CFZ, no Recreio, e na frente das câmeras, ele parece não ter qualquer intimidade com os modos e métodos de treinamento, sejam os físicos ou táticos. Pouco tempo depois em 1999, ele se tornaria treinador no Kashima Antlers, antes foi coordenador técnico do time de Zagallo na Copa da França e ainda teria um sucesso considerável no Olympiakos, CSKA, futebol uzbeque e iraquiano. Seus principais destaques certamente foram a frente do Fenerbahce onde comandou o ex-meia Alex e tantos brasileiros, além da seleção japonesa. Ao menos na vida real, ele parecia lidar bem com o ofício de técnico.

Os clichês de ficção científica são apresentadas de maneira bem pueril, tosca até. Os atores não se levam a sério, e o desempenho dramático de Zico é risível, se torna um pouco mais palatável quando Zicópia entra em cena, a versão mais engraçada e gaiata dele. O filme é na verdade uma peça de propaganda do ex-jogador, da banda de pagode Só no Sapatinho e os negócios do CFZ. A família Antunes Coimbra consegue ser ainda menos expressiva que o Camisa 10, e nem os atores famosos como Eri Johnson, Thierry Figueira, Jonas Bloch e Paulo Gorgulho salvam o filme, nem mesmo a breve aparição de Adílio tem importância.

Fontoura demonstra inspiração clara em Space Jam, filme que trazia  Michael Jordan lidando com os personagens da Warner Bros, os Looney Tunes. Até adesivos do filme são vistos pelos cenários. Os produtores devem ter achado uma boa ideia fazer uma versão BR do filme, colocando uma figura popular ali, até um coelho que serve de mascote tem um nome curioso, Perna Longa.

O maior mérito do longa-metragem certamente reside no fato de demonstrar por A mais B que ser famoso não é o suficiente para protagonizar um filme, é preciso ter um roteiro coeso, boas atuações, e mesmo que Uma Aventura do Zico até tenha um elenco com famosos, todo o restante é complicado e quase intragável, não fazendo rir pela graça do elenco infantil, e sim pelas piadas involuntárias que ele gera.