Foto: Flamengo

Em entrevista exclusiva ao Portal Urubu Interativo, o Mental Coach do jovem atacante Lázaro, do Flamengo, e de tantos outros atletas, fala sobre sua profissão e a importância desse trabalho no futebol de alta performance. Cleiton é formado em Coaching Integral Sistêmico, Leader Coaching, aperfeiçoado em Psicologia de Alto Rendimento pela Universidade de Barcelona. Exerceu, ainda, o cargo de professor de Liderança e Comportamento na Marinha do Brasil. Confira, na íntegra, a entrevista completa:

  1. A profissão de Mental Coach é relativamente nova no Brasil. Em que ela consiste e qual sua importância no futebol de alta performance?

“Existem grandes profissionais que atuam há um tempo no Brasil. Porém, o futebol brasileiro difunde pouco o treinamento mental para a melhora da performance dos atletas. Ainda enfrentamos resistência pois, o entendimento de alta performance está relacionado, somente, ao treinamento físico, técnico e tático. Mas, acredito que estamos caminhando para essa mudança.

Mental Coaching é um método específico para treinar as habilidades mentais necessárias para um alto rendimento. O treinamento mental para atletas, geralmente inclui definição de metas, visualização, imagens mentais, controle do diálogo interno, controle dos pensamentos negativos, controle de emoções, automotivação, autoconfiança, foco, concentração, resiliência e atitude e resistência mental.

A importância do treinamento mental para atletas que desejam alcançar o alto rendimento é: ajudar o atleta a definir seus objetivos e metas; criar estratégias para desenvolvimento dos seus pontos fortes e, melhorar pontos fracos; criar uma rotina de alta performance e fortalecer a disciplina e persistência; preparar mentalmente o atleta para lidar com o medo, nervosismo, pressão e erro no jogo; criar consciência da autoavalição para um processo de melhoria contínua; ensinar o atleta a colocar o foco naquilo que ele pode controlar; depois de uma derrota ou erro, aceitar, resignificar e ativar a resiliência mental para dar a volta por cima; levar o atleta a conhecer e superar seus limites nos treinos e jogos”.

2. Já vimos vários meninos se perderem no esporte, deixando o dinheiro e outras “distrações” falarem mais alto. Como trabalhar a cabeça do jovem para se manter focado no futebol?

“Primeiro passo para quebrar essa cultura de fracassos de atletas potenciais é trazer a consciência do que é ser um atleta de alta performance. Na minha visão, esse termo é um pouco banalizado no futebol. O fato de um atleta estar em um clube grande não significa que ele tem alta performance.

Na verdade, se nos basearmos, por exemplo,  no Vinicius Junior, que treina cerca de 8h por dia, tem uma alimentação super regrada e um time de profissionais o ajudando a superar seus limites, quantos atletas, no Brasil, fazem isso hoje?

Eu procuro mostrar ao atleta que para ter alta performance ele precisa primeiro ter domínio das habilidades técnicas e táticas, excelente estado físico, descanso, alimentação, recuperação, uma mente forte e resistente, liderança, inteligência  emocional, um staff, família e amigos que o apoiem para atingir o alto nível.

Digo, também, que só o querer não vai ajudá-lo a realizar seus sonhos. Só o talento dele não é suficiente. Tem que ter muito trabalho, dedicação, renúncia e sacrifício. Eu falo sempre sobre as seduções e armadilhas do futebol. É uma questão de decisão. Ele precisa adiar recompensas imediatas para viver um sucesso a longo prazo”.

3. Como foi trabalhado o “mental” de Lázaro, após Rogério Ceni vir, de forma pública, falar sobre a intensidade que o atacante não entregava? Ele ficou muito abalado na época?

Nessa época ainda não trabalhávamos juntos. Mas, ele sabe o potencial que tem e, hoje, o tenho ensinado a transformar as situações adversas em um combustível para superação. Ensino como lidar com os pensamentos negativos para que não afete quem ele é, e o que é capaz de fazer. Tem feito isso muito bem nos treinos e jogos”.

4. A posição de Lázaro é a mesma de um grande ídolo da torcida: Bruno Henrique. Como transformar essa disputa de titularidade sadia para o jovem, já que ele é uma grande promessa do Flamengo?

“Bruno Henrique tem a carreia consolidada. É, realmente um ídolo do Flamengo e o Lázaro está iniciando sua carreira. São formas diferentes de enxergar o mundo e o Lázaro está concentrado no seu próprio trabalho, sem almejar ocupar o lugar de alguém mas, sim, ocupar o seu próprio espaço.

Apesar de fazermos um processo individual, buscamos desenvolver suas habilidades mentais para melhorar seu desempenho e, assim, realizar com mais eficiência aquilo que o treinador pede e contribuir para o resultado positivo do time”.

 

SRN

Sílvia Lima

Colaborador: Pablo Raphael